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quinta-feira, 24 de junho de 2010

EU TIVE UMA MENINA...

Eu tive uma menina em minha vida. Talvez das mais lindas que já conheci. Boa filha. Linda namorada. Atleta. Corpo bonito e cabelos anelados.

Durante um jogo de vôlei, ela caiu e bateu o joelho no chão. Nada diferente de uma dor comum em uma atleta. Mas, aquela dor começou a se espalhar pelo corpo todo.

Aos poucos, a garota foi tomada de dores em todos os cantinhos do esqueleto. Algo que nunca tínhamos visto. Em poucos dias, as dores do joelho tomaram o corpo todo e, a menina já nem conseguia mais andar direiro. Eu era bem ligado à família e pude conviver com este sofrimento.

Difícil foi achar um motivo para essas dores. Um dia, em São Paulo, na escola paulista de medicina, o Dr. Goldenberg deu dois diagnósticos: esclerose múltipla ou leucemia. Confimado: leucemia. Sendo assim, a família começou o tratamento de quimioterapia e de radioterapia.

Aos poucos, a bela menina de corpo bonito e cabelos anelados, foi se tornando quase um cadáver ambulante. Seus cabelos caíram. Seu sorriso estava mofado e seus olhos já não brilhavam com tanta originalidade.

A leucemia foi avançando e a menina foi se cansando. Cansou tanto que no dia 1º de janeiro de 1993 ela parou de andar. Estava paralítica.

Suas mãos, que antes davam saques bem altos e cortadas de vôlei, agora estavam pesadas demais até para levantar a flor que eu levei para ela, em uma certa noite.

Eu vi um ser humano minguar. Nunca tinha visto aquilo. Era um trauma. As cenas mais chocantes eu presenciei. Ela chorava de dor de tanta quimioterapia no corpo. E a morfina tinha o mesmo efeito de um AAS.

A incansável leucemia foi se concretizando no corpinho que agora pesava no máximo 25 kilos. A pele escureceu e ficou queimada de tanta química. Os dentes foram se amarelando e o corpo perdia suas curvas naturais.

A leucemia virou um tumor. E outro. E mais outro. Quando demos conta seu corpo era um depósito de tumores. Muitos se espalhavam por todo o seu organismo. Só na cabeça estouraram três dos grandes. Ela estava deformada. Esquisita. Apagada.

O câncer não cansou e foi se alastrando para os pés e mãos. Em pouco tempo pegou sua coluna. A menina estava tetraplégica.

Um ano antes era uma atleta de vida longa. Hoje, um ser totalmente dependente até para tomar banho, cortar as unhas e fazer xixi.

Dia 18 de março de 1993, às 15 horas (hora da Misericórdia Divina) a menina - e seu nome era Daniele - dava seu último suspiro nesse mundo, soltava uma lágrima que lhe escorreu pelo peito já sem seios, sorria e se despedia de nós.

O último sorriso ficou gravado em seus lábios durante as 26 horas de velório.

Eu tive esta menina como irmã por 14 anos. Os pais que eu vi sofrer eram também os meus pais. A mãe que rezava a noite, descontrolada era minha mãe. O pai que vi envelhecer vendo o sofrimento da filha era o meu pai.

Algumas pessoas dizem que eu sou forte. Outras dizem que eu sou especial. Acredita mesmo nisso? Eu não. Quem segurou minha fidelidade e meu chamado foi Deus.

O sofrimento aconteceu e eu não relatei dez por cento dele aqui.

Hoje, quando penso na Dani, minha saudosa irmã, duas coisas me vem à lembrança: o tercinho de Nossa Senhora que ela não largava e o sorriso dela quando eu fazia palhaçada.

Se para ficar comigo Deus não me poupa dos sofrimentos, é assim que será. Deus encontra Seus melhores amigos no sofrimento e não na festa.

Algo vem em meu coração quando me lembro de tanto sofrimento: "Filho, é tão lindo ver-te sofrendo e não Me abandonando que a cada dia Me apaixono mais e mais por ti. Obrigado".

Deus está comigo. Não tenho dúvidas disso.

Um comentário:

  1. Obrigada por partilhar isso conosco, preciso aprender a amar mais minha família esquecer tudo que já passou, sei que não será da noite para o dia pq qndo queremos seguir à Deus o inimigo nos ataca de tudo qnto é jeito, mas sou vencedora em jesus mais uma vez muito obrigada por partilhar um momento de sua vida tão doloroso isso demonstra quão grande é seu amor e sua fé em Deus, que todos tenhamos paz em JESUS e MARIA.

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